sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Para falar do meu parto acho que faz mais sentido contar uma breve história de como cheguei aqui e de como nasceu minha primeira filha.
Não sigo a mesma linha da maioria das mães humanizadas. Antes de conhecer o assunto por dentro eu acreditava mesmo que parto normal não era “normal”. Isso era coisa de bicho. Imagina só, uma mulher em pleno século XXI sofrendo e gritando para ter o filho? Toma um remedinho, deita ali e o médico faz o resto. Quanta frescura por causa de um cortinho que nem se vê.
Meu medo de parto normal era tão grande que cheguei a trocar de médico porque o que eu estava indo dizia não fazer cesárea sem indicação (pena que é mentira! Não conheço quem não tenha tido cesárea com ele).
Pois é. Eu pensava assim.... até engravidar em maio de 2009. Aí a gente repensa em tudo. Será mesmo que eu quero o tal “cortinho”?
Mas perdi o primeiro bebê. Descobrimos no ultrassom de 12 semanas. Que dor.... meu mundo acabou. “É tão comum.” Mas precisava ser comigo? Fiz uma curetagem que não foi 100% e acabei fazendo uma segunda. Dois meses depois, com ajuda de um remédio que não lembro mais, voltei a ciclar. E em outubro de 2009 eu estava grávida de novo.


O NASCIMENTO DA CATARINA

Aí realmente eu era a pessoa mais feliz do mundo! Fiz um milhão e meio de ultrassons para ver se meu bebê estava vivo. Eu nem ligava pros parâmetros, medidas, TN, líquido, placenta.... eu queria ver o coração. Só parei de pedir exames pro médico depois que comecei a sentir o bebê mexer. Doida, eu sei. Mas o medo de acontecer de novo era grande. Eu queria ter certeza de que nada aconteceria dessa vez.
E a gestação foi uma beleza. O médico que eu arrumei faria uma cesárea se eu quisesse. Mas me disse pra eu pensar direito no assunto. Afinal, parto normal é melhor pra mãe e pro bebê. E eu pensei bastante. Mas aquela imagem de novela, da mulher agonizando, do sofrimento, não me saia da cabeça. A tal da episiotomia então.... que horror. Se é pra cortar que seja na barriga, que não é um lugar tão nobre.
Junto comigo uma grande amiga também estava grávida. E optou por ter um parto domiciliar (PD) com a Ana Cris. “Pronto, pirou!” E ela me explicava, e me contava das coisas que aprendia no GAMA (grupo de apoio à maternidade ativa, em São Paulo). Coitada, ela tentou de tudo pra eu participar de pelo menos um encontro do Samaúma (grupo semelhante, porém em Campinas). Mas eu não quis papo não. Mil desculpas. “É longe, não dá tempo de sair do trabalho.” “Não tenho um tostão para pagar equipe.” “Vão querer me convencer a ter filho em casa, credo!” e por aí vai... Até que funcionou um pouco ouvir o que ela me contava e saber de como foi lindo seu PD. Também ouvia muito minha mãe falar de como gostaria de ter tido parto normal (ela teve 4 cesáreas) e de como os efeitos colaterais da cesárea podem demorar anos para aparecer (por exemplo as aderências). E eu comecei a pensar no assunto.
Então na minha cabeça eu esperaria ter um parto normal. Mas assim, caindo do céu. Marcar a data da cesárea eu nunca quis. Mesmo quando eu tinha certeza que teria uma por escolha, eu queria entrar em TP (trabalho de parto) para o bebê me avisar que estava pronto. Tinha muito medo de acabar com um bebê na UTI neonatal por causa de uma decisão feita por capricho. Então eu iria esperar o TP e “se tudo der certo” eu tenho um parto normal.
Com umas 34 semanas o médico soltou a famosa frase “então vamos marcar a cesárea?”. Eu disse que não, que esperaria o TP independente do que aconteceria depois. E ainda perguntei o motivo já que ele mesmo tinha me dito que parto normal era melhor. E ele “É melhor, mas eu não faço porque posso não estar disponível no dia”. Ah tá.... ele só tinha esquecido desse detalhe. Na consulta seguinte, uma semana depois, ele disse que tínhamos que marcar a cesárea para interromper a gravidez até 38 semanas, pois minha pressão estava alta. 13x9. Aí não voltei mais. Ser cesarista é uma coisa, desonesto é outra.
Fui então procurar minha médica de São Paulo, que me atendia na adolescência. Ela disse ser suuuuper a favor do parto normal (ahãm), mas só esperaria 41 semanas. Era minha melhor chance, dentro do meu conhecimento. E afinal, não chegaria a 41, né? Mas chegou. E aí eu barganhei mais dois dias, e nada. Então com 41 semanas + 2 dias marcamos uma indução. Quer dizer, um teatro. Colocar ocitocina na veia e me deixar 4 horas deitada numa maca não é bem uma indução. Ainda mais com um colo ainda posterior, duro e sem nada de dilatação. Cheguei a perguntar sobre o misoprostol, mas ela desconversou e disse que era bobagem, “eu não acredito nisso”. Ainda acabei tomando antibióticos (como se a indução tivesse alguma chance de funcionar) por ter sido positiva para a tal da strepto.

Toda a beleza de uma cesárea. (Cadê a mãe??)
E assim, obviamente, a Catarina nasceu de uma cesárea, no dia 9 de julho de 2010 no Hospital São Luiz do Itaim. A cirurgia em si não foi traumática pra mim. Foi até respeitosa na medida do possível. Ninguém me maltratou, não fui amarrada, pude ficar com minha filha no colo alguns minutos (depois dela ser cutucada, claro). E além do que a cesárea já era esperada no meu caso. Eu estava tranquila com ela. O problema da situação foi que eu fiquei 10 horas afastada da minha filha desde logo após o nascimento. O motivo? É protocolo do hospital ficar 4 horas em observação no berçário, mas tinham tido muitos nascimentos para só metade da equipe (era feriado) e não podia ir pro quarto sem tomar banho. Isso foi o que me doeu.
Na verdade, apesar da médica ter a parcela de culpa dela, eu nunca consegui me sentir enganada. Nunca achei que meu parto foi roubado. Porque eu tinha tudo na minha frente e me neguei a olhar. Eu tive várias chances de conhecer o outro lado. Eu escolhi continuar na ilusão de que daquele jeito tava bom.
Hoje eu vejo que eu precisava passar por aquela cesárea naquele momento. Foi parte do meu caminho. Foi ali que eu percebi como minhas convicções estavam erradas. Se eu tivesse um parto normal com aquela médica, certamente seria do tipo passivo, cheio de intervenções e com a temida episiotomia. Seria uma cesárea por baixo. E não me traria até onde cheguei hoje. A cesárea me fez ter vontade de parir. Um parto tradicional só iria aumentar meu medo.
Primeira foto de família!
Também é importante ressaltar que não tive problemas para amamentar e me adaptei bem à vida de mãe. Assim, por mais que o nascimento tenha tido menos glamour do que poderia, o meu nascimento como mãe foi maravilhoso e emocionante. Eu não proporcionei uma chegada ao mundo digna para minha filha, mas ela me deu o maior presente do mundo, que foi ser mãe... e de uma menina maravilhosa.
Conforme ela foi crescendo e se transformando na criança mais meiga e companheira que eu podia desejar, veio a vontade de ter mais um bebê. Nesse ano e meio eu lia o que a minha amiga que teve o PD postava no facebook. Ainda meio desconfiada eu ia vendo os vídeos, lendo alguns artigos, e foi crescendo uma certa indignação com a realidade obstétrica brasileira. E foi caindo a ficha de porque eu tinha esse pavor de parto normal.


MINHA RECONSTRUÇÃO

No final de 2011 comecei a procurar um médico humanizado para planejar minha gravidez. Procurei na internet e encontrei um site todo bonitinho, falando sobre parto na água, cheio de depoimentos e que atendia meu plano. "Quem sabe com ele eu consigo meu VBAC" (parto normal após cesárea). Eu sabia que teria que pagar o parto, mas queria pelo menos economizar nas consultas. Fui a uma consulta e achei tudo meio estranho. O discurso era bonito, mas o consultório era muito chique e ele não quis falar de valores. Não senti um clima muito legal.
Fui numa segunda consulta pegar o resultado do Papa Nicolau e ouvi uma gestante conversando com a recepcionista que o bebê nasceria dia 15 de março. Estávamos em janeiro. Achei estranho e fui perguntar para a recepcionista. Ela me respondeu “as mulheres hoje em dia preferem cesárea, né?”. Mandei na hora uma mensagem para minha amiga do PD “por favor, vê se alguém dos seus contatos conhece Dr. Fulano”. E recebi uma mensagem dizendo que não aconselhavam, que era mais marketing do que realidade. Então pedi indicações em Campinas e a resposta foi “Mariana Simões e Priscila Huguet”.
Cheguei em casa e fui pesquisar as duas. Como a Priscila atende meu plano, nem marquei consulta com a Mariana para não correr o risco de gostar. Fui direto na Priscila e gostei bastante. Ela me deu panfletos do Samaúma e do Grupo Vínculo. Em poucas semanas, em fevereiro de 2012, descobri que estava grávida. Comecei então a frequentar o Grupo Vínculo, que é aos sábados. Como o Samaúma é durante a semana, ficava complicado sair do trabalho, pegar a Catarina na escola e chegar em Barão.
Eu adorava os encontros. Aprendia tantas coisas. Quanta coisa que a gente ouve por aí e é distorção, exagero, até mentira. No começo ainda ficava meio aflita com as imagens. Eu tinha um medo do expulsivo, mas um medo.... Aquelas imagens do bebê saindo me faziam ficar até tonta. Eu nunca pensava na dor das contrações. Nunca me assustava o trabalho de parto, mas o bebê saindo por ali... Ui, que dor!! E pensar em laceração então.... me tirava o sono...
Mas eu fui me acostumando. Foi ficando mais fácil, mais natural. Meu plano era ter meu bebê na Maternidade de Campinas, com a Priscila (GO), a Otília (neo) e uma doula que eu ainda não conseguia decidir. Por causa da minha história, dos meus medos, eu queria uma doula com bastante experiência e bem firme. Alguém que não me deixasse desistir.
Então quando eu estava com mais ou menos 30 semanas de gestação a Maternidade de Campinas resolveu proibir a entrada das doulas. Isso pra mim foi terrível. Eu contava muito com a presença de uma doula. Pra mim o suporte emocional era essencial. Eu não conseguia imaginar o parto sem esse componente da equipe, então comecei a pensar nas alternativas. Poderia ir para o Renascença, que está bastante amigável com as equipes humanizadas, mas não aceita meu plano de saúde, ou pensar em um PD.
No mês seguinte fiz um esforço, arrumei ajuda da sogra e comecei a frequentar também o Samaúma. Queria ver as coisas por outra perspectiva e conhecer mais doulas para escolher logo a minha (já estava com umas 33 semanas). Adorei os encontros. Um esquema diferente de conversas ao invés de palestras. Mas também muito informativo e gostoso. E lá conheci a Dorothe. Marquei uma conversa com ela e gostei bastante.
Nesse mesmo mês meu marido caiu de moto e quebrou a mão. Ficamos uma semana de castigo no hospital em São Paulo para ele fazer a cirurgia. Nessa semana, misturando cansaço com estresse, travei a coluna duas vezes. Eu já vinha com uma dor no cóccix a gravidez inteira e nessa semana a coisa desandou. Fui parar no pronto socorro as duas vezes pra conseguir me mexer de novo. Voltando para Valinhos marquei para fazer acupuntura com a Dorothe para tentar me aliviar. Ela me espetou, cutucou, sangrou, botou sementinhas na orelha e uns dois dias depois eu tava quase nova. Nem podia acreditar. Claro que ainda doía um pouquinho, mas eu andava, sentava, levantava... uma beleza!
Outubro chegou e eu comecei a me preparar para a chegada da neném. Arrumei uma veterinária para me substituir no trabalho, coloquei as pendências da clínica em dia, lavei as roupinhas... enfim, estava fazendo o ninho crente que em mais ou menos 3 semanas ela chegaria (minha DPP era 25/10).
Pois é. Esse ninho foi refeito umas 10 vezes...
Quando estava completando 38 semanas, em um encontro do Samaúma, ouvi uma coisa que me deixou com uma pulga atrás da orelha. A Ana Paula comentou “tiro o chapéu para uma mulher que nega anestesia estando no hospital”. Eu não queria anestesia. Nada contra, não era um fetiche pela dor. Mas eu tinha muito medo de cair na cascata de intervenções e não conseguir meu parto. Decidi então marcar uma consulta com a Ana Cris.
Fui à consulta com 38 semanas + 4 dias. Me falaram que ela era super sincera e pensei que talvez ela pudesse me dar uma luz se eu era candidata a um parto domiciliar ou se na verdade era fogo de palha. Estava até esperando que talvez ela fosse me desanimar. Mas não foi o que aconteceu. Conversando com ela cheguei à conclusão de que os medos que eu tinha seriam o mesmo em casa ou no hospital. Tinha medo de precisar de remoção, mas se eu fosse para o hospital por escolha seria a mesma coisa que uma remoção. Também tinha medo de querer analgesia na hora do bebê sair, e ela só falou “ninguém vai te dar analgesia se o bebê já estiver saindo... mesmo no hospital”. Ahhh.... então por que não ter em casa? Se desistir, não aguentar, vamos pro hospital e pronto.
Mas a Ana Cris não podia me atender. Ela disse que estava muito em cima da hora, que tinha muitas gestantes já perto da data e não poderia correr o risco de deixar um delas na mão. Mas me sugeriu conversar com a Priscila. “Dá uma xavecada nela que rola”. E foi isso que resolvi fazer.
Com 39 semanas fui a uma consulta com a Priscila que me perguntou se eu estava disposta a esperar até 42. Sem dúvida alguma esperaria. Não faria outra indução por nada, ainda mais por ter as limitações de uma cesárea prévia. Conversamos então sobre PD e ela disse que topava, mas se eu chamasse uma enfermeira obstetra também para auxiliá-la caso necessário. Deixei então tudo engatilhado. Conversei com a doula, com a pediatra e arrumei uma enfermeira. Inclusive decidi não fazer o exame de strepto para nem saber o resultado. Li os trabalhos a respeito e fiquei convencida a não fazer a profilaxia. Decidi não fazer antibióticos mesmo se fosse para o hospital, e saber o resultado só serviria para plantar a semente da dúvida na minha cabeça.
Seguimos esperando. Na semana seguinte, nova consulta. 40 semanas. Ela perguntou se eu queria fazer o descolamento e eu neguei. Preferi esperar mais uma semana sem intervenções. Saí de lá apenas com um pedido de perfil biofísico fetal para fazer na semana seguinte.
Alguns dias depois fiz o exame e estava tudo bem. A única coisa que me deixava receosa era que desde o primeiro ultrassom, com 8 semanas, a idade gestacional dava 1 semana e 1 ou 2 dias a mais. No começo a Priscila tinha achado melhor seguir pela data do ultrassom por ser um VBAC, mas em algum lugar no caminho ela desistiu disso. Bom pra mim, senão teria perdido uma semana.
Chegou mais uma quinta-feira e completei 41 semanas. Levei os exames para a médica e resolvemos tentar o descolamento de membranas. Por incrível que pareça ainda não tinha nenhuma dilatação. Esperamos passar o feriado de 2 de novembro e voltei, 4 dias depois, para uma nova tentativa. Fiz mais um cardiotoco pela manhã e fui pro consultório. Para minha infelicidade minha dilatação era “quase” um dedo. O que isso significa? Que doeu horrores o tal descolamento!! Na verdade ela teve que forçar o dedo por uma micro passagem no colo... que horror! Mas fui pra casa cheia de esperança.
      Passaram-se mais 3 dias e nada aconteceu. Voltei na Priscila com 42 semanas e fizemos novo descolamento, ainda com aquele dedinho de dilatação. Doeu muuuito de novo. Como a dilatação não aumentava colocamos o tal balão de dilatação cervical. Esse tal balão é mais específico que a sonda de foley. Na verdade são 2 balões. Um maior fica dentro do útero e o outro fora. Tive que comprar direto do fornecedor pela bagatela de R$220,00. Já nem custa nada ter PN no Brasil, né? Colocamos o tal balão e eu, esperando a dor maior do mundo, tive um pequeno “pití” no consultório e quase desmaiei. Fica a dica: o balão não dói!!! Eu realmente paniquei, mas não senti nada. Saí de lá e disse pro meu marido “Acho que a Priscila acabou de perder as esperanças comigo. Se eu chiliquei com um balãozinho imagina quando começarem as contrações?”.
Nesse mesmo dia teve encontro no Samaúma. Foi muito bacana, apesar da sonda no meio das pernas. Melhor ainda foi ver todo mundo me cumprimentando com aquela cara de “essa mulher não vai parir?”. Recebi várias dicas de chá, escrever carta pra bebê (e queimar), namorar, chorar... fiz tudo isso. Mas nem fez cócegas. Como podia ter chegado na tal data limite sem nem um sinalzinho de nada?? À noite fui buscar a Anna, minha amiga do PD, que seria minha “co-doula” e já veio me dar um suporte durante a espera. A gente tava crente que a qualquer momento o TP começaria....
No dia seguinte fui fazer outro cardiotoco. Eu e o balão. Continuava tudo igual. Mais tarde o balão saiu sozinho. Enooooorme!! Fiquei radiante. Agora dilatou. Tem que ter dilatado.
42 semanas e 2 dias
No sábado, dia 10 (42+2), teve manifestação na frente da Maternidade de Campinas. Eu e a Anna resolvemos então ir pra lá. Quem sabe gritar e pular um pouco não dava uma acelerada, né? Pois fui, pintei a barriga, pulei, gritei, caminhei, sai na reportagem do G1.... e nada.
         No dia seguinte fomos pro hospital de mala e cuia. Faríamos a temida indução. Chegando lá, subi com a Priscila enquanto meu marido fazia a ficha. Ela me examinou e ligou pra ele “pode cancelar a internação”. Olhou pra mim e disse “Ainda está com aquele mesmo dedo de dilatação. Se a gente fizer a indução hoje provavelmente não vai funcionar e as chances de cair em outra cesárea serão grandes”. Oi??? Como diabos aquele balão gigante passou por esse dedinho de dilatação?? Nem acreditei. Resolvemos colocar uma nova sonda no colo do útero. Desta vez a tal da sonda de foley. Essa doeu um pouco mais que o balão. É um balão bem menor que o outro, mas que fica bem no meio do colo. Esse foi mais dolorido para colocar, porque dá bastante cólica. Também sangrou um pouco, mas tudo bem... lá vou eu embora de novo com uma sonda no meio das pernas. Ficou combinado que tentaríamos no dia seguinte.
Sonda de Foley
         Mais tarde mandei mensagem para a Priscila perguntando se poderia tentar ocitocina spray nasal. Tinha lido sobre isso em algum lugar e estava desesperada por qualquer coisa que me fizesse entrar em TP sozinha. Ela me respondeu que era placebo, mas que não faria mal. Tentei. Espirrei a cada 15 minutos por 4 horas e comecei a ter contrações fraquinhas e indolores, mas bastante frequentes. 
Bom, isso foi num domingo. Jogo do Flu, que resolveu ser campeão naquele dia, antes do final do campeonato. Tanto eu quanto a Priscila somos torcedoras do Flu (aliás, minhas duas filhas são muito pé quente e nasceram em ano que o Flu foi campeão). Acabando o jogo ela me ligou e sugeriu passar pra terça ao invés de segunda (acho que foi empolgação pelo resultado do jogo... será?). Na hora fiquei com medo e disse que preferia esperar só até segunda à tarde. Também estava com esperança que a ocitocina (ou a emoção do Flu campeão) me fizesse entrar finalmente em TP. Dormi pensando nisso. 
Na segunda (42+4) acordei cheia de coragem, mas sem nem uma dorzinha pra chamar de minha... . Mas pensei, se a Priscila está confiante que pode esperar mais um dia porque eu vou arregar? Além disso a sonda de foley caiu. “Eba!!! Agora dilatou!!”. Liguei pra Priscila e disse que esperaria até o dia seguinte. Então ela disse pra eu ir lá examinar e pegar pedido de ultrassom e cardiotoco. Fui e..... PQP!!! O mesmo dedo de dilatação!!! “Ah, não.... tá me zuando.... esse colo é elástico??? O balão é enorme!! Como ele sai e não dilata??” Saí de lá arrasada. Na minha cabeça começou a fazer sentido que algumas mulheres simplesmente não dilatam... e eu era uma delas!
A Priscila pediu para eu fazer um ultrassom e cardiotoco para monitorar a bebê. Não conseguia marcar exame em lugar nenhum, então fui para o paraíso da cesárea agendada: Madre Teodora. Passei no PS e resolvi que não ia mentir. Falei pro médico “só vim para fazer os exames, estou bem, minha bebê está bem e estou de 42 semanas e 4 dias”. Bom, nem preciso dizer que ficou todo mundo de cabelo em pé. Vieram 3 obstetras falar comigo, perguntar se minha médica estava indo pra lá “fazer seu parto”, me explicar que eu não podia mais esperar, etc. O médico do ultrassom ainda fez questão de explicar que minha bebê tinha perto de 4Kg e sua cabeça estava um pouco pra esquerda, deixando a nuca mais virada para o colo, e que “se não encaixou até agora não encaixa mais”. Agradeci a “boa vontade” de todos e fui embora. Feliz que estava tudo ótimo, mas receosa porque no dia seguinte seria a internação (de novo).
A essa altura a Anna, coitada, já estava há 4 dias na minha casa. Deixou o pequeno de 2 anos e o marido sozinhos. Além, é claro, do trabalho. Então ela acabou tendo que ir embora. Uma pena porque acabou não acompanhando o parto, mas a presença dela nessas mil intervenções foi ótima. Um grande apoio mesmo. 


FINALMENTE O TP 

Fui dormir meio sem esperança e até um pouco conformada. Talvez por isso, por ter relaxado e desencanado, acordei com contrações na madrugada do dia 13 de novembro. Eram um pouco doloridas e razoavelmente ritmadas. Mas ainda distantes uns 15 minutos, às vezes mais. Às 7 da manhã continuava igual. Entrei no chuveiro quente e não parou. Noooossa, quase chorei. Mandei mensagem pra médica se podia ficar em casa e ela disse que sim. E fui ficando. O dia todo desse jeito. Contrações fortes, doloridas, mas de 15 em 15 minutos. E nada de ficar mais perto. Falei com a Dorothe e mandei mensagem para a pediatra, a Maria Otilia. Falei que ainda não tinha certeza se ficaria mesmo em casa e ela respondeu que talvez fosse mais prudente ir pro hospital por causa das quase 43 semanas. De qualquer maneira ficaria em casa o máximo possível.
             A Dorothe chegou na minha casa de noite, umas 21 horas. Quando ela chegou eu ainda estava de bom humor, mas não muito feliz com a dor. A tarde inteira as contrações vinham com uma forte dor lombar e naquele momento a dor lombar já não ia embora. Permanecia nos intervalos me impedindo de relaxar. Outra coisa muito curiosa, mas não muito agradável, é que entre as contrações eu sentia a bebê “minhocando” lá dentro para ajeitar a cabecinha. O infeliz do médico do ultrassom achou que ela não ia encaixar, mas ela não concordou. Enquanto eu me virava para aguentar as contrações, ela se virava para achar o caminho.
Fomos nos virando então até 1 e meia da manhã. Eu já estava ficando mais mal humorada. Queria entrar na banheira, mas ela estava desmontada (a bendita estava montada desde 39 semanas, mas desmontei quando íamos fazer a indução... Murphy é mesmo infalível). Achei melhor então irmos para o hospital ao invés de montar a banheira em casa e depois ir na hora do trânsito para lá.
Chegamos no hospital umas 2:00. O caminho foi bem tranquilo. Consegui até dar umas cochiladas entre as contrações, mas aconselho a fugirem das ruas de paralelepípedos.... que tortura!! A Priscila nos encontrou lá, fez o toque e disse “colo posterior, duro com quase 2 dedos”. Juro que nessa hora eu pirei. “O que???? 2 dedos??? Eu vou ficar 5 dias em trabalho de parto então? É isso? Pois eu quero anestesia AGORA!!”. Ela me explicou que anestesia naquela hora poderia atrapalhar tudo e até acabar em cesárea, mas eu nem escutava. Só dizia “Não tem problema, eu banco! Se não der certo, paciência”.
Cochilando na água...
Nessa hora a Dorothe me levou pra piscina e a Priscila literalmente saiu fugida. Só disse “volto às 7”. Ela explicou depois que se tivesse ficado lá eu ia continuar pedindo anestesia, e ela não poderia negar. Era melhor “afastar a tentação”. Mas acho que meu humor foi embora com ela. Tava realmente desgostosa com aquela situação. No começo a piscina ajudou bastante. Eu até conseguia dar umas dormidinhas entre as contrações. Mas o corpo vai acostumando e parece que para de fazer efeito. Eu estava cansada, dolorida, com as costas me matando, achando que minha dilatação demoraria para sempre.... comecei a pensar em todas as intervenções das últimas duas semanas. Meu limite tinha chegado!
Depois de umas 2 horas na piscina pedi para chamar a enfermeira obstetra de plantão para ver minha dilatação. Isso era umas 4 e pouco da manhã. Juro que se estivesse nos 2 dedos eu enfiaria a cabeça na água para nunca mais levantar. Mas até sorri quando ela disse “4cm”. Quer dizer, sorri e mandei chamar a anestesista porque agora chega... está evoluindo então eu PRECISO de drogas!!!!
A Priscila e a anestesista chegaram quase juntas, umas 7:00. Isso significa que eu fiquei 4 horas na piscina e estava mais enrugada do que os bebês na hora que nascem. Ela veio fazer o toque e disse 7-8 cm. Aí sim eu virei uma pessoa diferente. Meu humor ficou outro. Tava toda serelepe, mas ainda querendo dormir. A anestesista veio então aplicar a analgesia. Eu nem perguntei nada para não ficar tensa, mas soube depois que a Priscila conversou com ela para fazer uma dose baixinha só pra eu descansar.
Na hora que ela aplicou a analgesia a dor foi toda embora. Eu podia andar, sentia o toque, mas nada de dor. Foi então que dormi um pouco. Na verdade tagarelei por uns 30 minutos com a Dorothe e o marido dizendo “Dorme, Diana!” e depois dormi quase uma hora. Acordei e fizemos um novo toque. Dilatação total!! Nem acreditei. Era verdade. Estava mesmo acontecendo... TODA MULHER DILATA!!!!
Então agora a bebê precisava descer. E lá fui eu rebolar, agachar, sentar na bola, fazer umas forcinhas na banqueta de cócoras... enquanto a bebê minhocava mais e mais. A Priscila disse que ela estava com a cabecinha meio de lado. Fiz umas forças junto com as contrações e ela conseguiu ajeitar com os dedos. Nessas de ajeitar a bebê a bolsa acabou estourando. Confesso que fiquei um pouco frustrada porque estava secretamente torcendo para ela nascer empelicada (é tão lindo!!). Mas que coisa doida que foi.... litros de água escorrendo pela cama. E que água límpida. Achavam que teria grumos, sangue, mecônio, sei lá.... mas parecia uma bolsa de 39 semanas de gestação. Agora sim estava tudo no jeito e a bebê começou a seguir seu caminho.
De novo, porque nada comigo seguiu os livros de medicina, tivemos uma surpresa. Dilatação total, bolsa rota e as contrações resolveram ficar mais curtas e espaçadas.... Claro!!! Por que ser igual aos outros se podemos inovar? Então precisou rolar uma ocitocina. Na verdade ela já tinha colocado ocitocina com a analgesia para evitar o risco do TP estagnar, mas antes estava bem de leve e agora teve que dar uma força extra.
Nessa hora a analgesia já tinha ido embora totalmente. Sentia tudo de novo. Mas o que mais me assustava era o fato de que o tão temido expulsivo chegou e ela teria que passar “por ali” a qualquer momento. Durante o trabalho de parto a Dorothe dizia para mim “Não pense no expulsivo. Vamos lidar com ele quando a hora chegar.” E eis que tinha chegado a hora, mas estava acontecendo tudo tão rápido que não falamos nada. 


           A CHEGADA DA TERESA

          Fiquei sobre a maca com as pernas dobradas tentando fazer força, mas aparentemente não resolvia nada. A Priscila me recomendou ficar de cócoras na cama segurando em uma barra na minha frente. Nos intervalos de contração eu sentava e na contração puxava o corpo para a posição de cócoras e fazia força. Pra ser sincera, eu estava tão louca nessa hora que não tinha entendido que ia nascer, que meu parto estava chegando ao fim. E também não sei como funciona para outras mulheres, mas para mim essa posição foi terrível. Fazia força para me erguer e acabava com dificuldade de fazer a força para baixo.
A Priscila então vira para mim e diz “Até alguns minutos atrás, se você não conseguisse, iríamos para a cesárea. Agora, onde a bebê está, se não conseguir é fórceps.” Nessa hora meu coração parou. Senti o medo tomar conta de mim. “Como assim?? Esperei 43 semanas, passei por 2 semanas de intervenções, 13 horas de TP, analgesia e o cacete a quatro pra acabar em fórceps?? Pra eu não parir sozinha??” Olhei para a Dorothe com cara de “Me ajuda!”. Ali não dava para ficar. Ela sugeriu a banqueta de cócoras e eu fui.
Só de descer da cama e assumir uma posição vertical a bebê já foi parar lá embaixo. Já dava pra sentir o cabelinho. Me falaram para colocar o dedo para sentir e eu disse “Não!” mas coloquei. Que loucura.... ela estava ali.... ao meu alcance.
Comecei a fazer força conforme me instruíram. “Prende a respiração e faz força pra baixo. Cuidado para não deixar a força presa no peito”. Mas não dava certo. Ela ficava ali no peito e eu ficava até roxa. Até que numa dessas forças saiu um grito. Um grito mesmo, de leoa, um rugido. E nessa força a Priscila disse “ótimo, essa foi muito boa”. Ahhhhh.... então agora me segura, pensei. Foi o grito que resolveu? Pois tapem os ouvidos.
E cada contração vinha junto com um grito lá de dentro. Uma coisa até meio selvagem. Não lembro nunca de ter dado um grito tão poderoso, tão profundo. Pra quem ouvia de fora era assustador (eu sei porque tem gravado), mas para mim era libertador. Junto com o grito eu botava pra fora minha dor, meu medo, minha ansiedade. E conseguia fazer mais força, e conseguia ter mais foco, mais determinação.
A Dorothe pegou então um espelho e disse para eu olhar que dava para ver o cabelinho. De novo disse “Não!” mas olhei. Nessa hora fiquei muito brava.... achei que veria o cocuruto, mas nããão.... tinha uns 2 milímetros de uma coisa pretinha lá dentro. Tá de sacanagem comigo??
Voltei pros meus gritos, agora um pouco mais tensa. Achei que não ia aguentar. Estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Mas elas não me deixavam desistir. Eu suava absurdamente. Escorria pelo corpo todo... meu cabelo ficou todo molhado. E eu não calava a boca. Tagarelei do início ao fim. Lembro da Otilia perguntar se eu não ia pra partolândia, mas essa era minha partolândia. Eu sou faladeira por natureza e ali eu estava na minha forma mais natural possível. Eu queria falar, argumentar, perguntar... e as contrações vinham e minha tagarelice era cortada por aquele grito. Mas eu logo já voltava a falar. Até que a vontade de fazer força começou a ser constante. Ela não respeitava mais as contrações. Era contínua. E comecei a fazer força atrás de força, grito atrás de grito, até que ela chegou. Saiu a cabeça e, segundos depois, saiu o corpo. Nasceu no dia 14 de novembro, 20 dias depois da tal da data provável.
A Priscila então só a segurou, desenrolou o cordão que estava meio enroscado nela, e a colocou no meu colo. Que sensação é essa? Isso não existe.... Chorei! Uma sensação animalesca. Não é uma emoção que a gente entende racionalmente, é uma coisa hormonal, instintiva, natural. Aquela pessoinha amassada, melada, coladinha no meu colo... Me senti simplesmente mamífera!
A bebê, até então sem nome, não tinha mais vérnix. Nem uma melequinha branca. Só sangue. E já nasceu de olhos arregalados, querendo mamar. Em menos de 5 minutos já estava no peito. E eu, que não tinha conseguido comer nada no TP de tanta ansiedade, pedi alguma coisa para comer e ganhei uma maçã. Diria que nunca comi uma maçã tão gostosa na vida! E ficamos as duas lá.... ela com o peito, eu com a maçã.
Realmente o parto é uma experiência transformadora. É difícil entender só pelos relatos. É o tipo de coisa que a gente tem que vivenciar para compreender o significado. Lembro que no filme “Parto Orgásmico” uma das mulheres diz que são poucas as vezes na vida que podemos nos orgulhar de verdade de nós mesmas e que o parto é uma delas. E realmente a gente se sente poderosa. Capaz de escalar montanhas, conquistar o mundo. Toda a dor, todo o medo, vão embora como mágica. E fica a sensação de realização e felicidade mais pura que existe.
Também posso dizer que lavei a alma nesse parto. Minha bebê não saiu de perto de mim um segundo sequer. Pesou e mediu ali ao meu lado. Mamou desde o momento que nasceu. E seu primeiro banho foi em casa, dado por mim e não por uma enfermeira qualquer.
Teresa demorou 43 semanas para nascer e 6 dias para ganhar o nome. E eu ainda estou digerindo tudo o que aconteceu naqueles dias. Não foi nem um pouco como imaginei, mas foi perfeito como tinha que ser. Quando lembro daquele momento digo que descobri um novo significado para a palavra “lindo”. Porque meu parto foi agitado, barulhento, cheio de suor, gritos, medo e dor... e foi LINDO!






Para finalizar, tenho uma "pequena" lista de pessoas especiais que merecem meu eterno agradecimento:

- Meu marido, Guilherme, que ficou ao meu lado o tempo todo, me segurou nos momentos de dor e medo, apoiou minhas decisões e a longa espera, chorou comigo quando nossa filha chegou e tem sido desde sempre um pai exemplar para nossas duas pequenas. Te amo muito!

- Minhas meninas: Catarina, por ser tão companheira e respeitar a chegada da irmã de forma maravilhosa, e Teresa por ter chegado com essa calma toda, apagando a ansiedade que precedeu o parto.

- Minha maravilhosa equipe: Dorothe Kolkena, minha querida doula que não me deixou desistir, mesmo quando pensei ter chegado no limite; Priscila Huguet, obstetra. Devo gratidão não só pelo respeito e competência, mas por ter bancado comigo a longa espera; Maria Otília, neonatologista e pediatra, que recebeu minha pequena com o maior carinho e ainda ajudou imensamente no registro fotográfico; Adriana de Lima Mello, enfermeira obstetra. Nem posso acreditar que tive a sorte de ter alguém que eu conhecia, e com quem ficava muito à vontade, de plantão naquele dia.

- Anna Gallafrio, minha BFF!!! Agradeço o apoio desde sempre e principalmente por estar ao meu lado durante todas as pequenas intervenções pré-parto.

- Ana Paula Caldas, Marcela Zanatta e Janaína Campos, do Samaúma, pelos encontros e pelo apoio na reta final. (Pelas receitas, dicas e "pajelanças" também.) 

- Karina Falsarella, Mirian Kedma e Renata Olah, do Grupo Vínculo, por todos os encontros desde o comecinho da gestação.

- Barrigudas e mamães do Samaúma e do Vínculo que me fizeram companhia nessa jornada.

- Olivia Separavich, que acabei não conhecendo pessoalmente, mas que estava "engatilhada" caso rolasse o PD. Obrigada pela atenção!

- Ana Cris, Carla Polido, Mariana Simões, Melania Amorim, Roxana Knobel e todas as demais "parteiras" que sempre trocam figurinhas entre si e fazem com que histórias como a minha sejam realidade pelo Brasil todo.

- E por fim, todo mundo que torceu por nós, especialmente na "semana extra" que parecia nunca acabar!! Essa energia foi demais e nos deu muita força e coragem!!



Sites interessantes:

http://www.gruposamauma.com.br/


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